Noites Acordadas: A Desventura dos Adultos na Terra da Insônia

Insônia infeliz, eis o mal que aflige a nossa geração adulta, esse demônio silencioso que aparece sem pedir licença e teima em não sair com a mesma discrição. Ahhhh, a insônia... aquela companheira fiel que nunca te abandona, mesmo que você grite por socorro no meio da noite, agitando a mão em um ritual de desespero. Você fala pra ela, "ainda é cedo, cara. Deixa eu tentar dormir", e ela apenas responde, "te peguei! Não vai escapar de mim agora!” A insônia, confesso, é uma das coisas mais infelizes que um adulto pode ter. Muitos de nós já recebemos ela de braços abertos. Lá pelas 23h, toda pomposa, ela toca figurativamente sua campainha. Cheia de malícia, pedindo licença para entrar. E de tanto bater, acaba entrando de gaiata, sem convite. É nesse momento que começa a luta contra o sono. O adulto, coitado, não conhece a guerra que está prestes a travar. O confronto contra a insônia não é para os fracos, é para os bravos, os destemidos. Mas, o destino do adulto é o esgotamento, a derrota para a amante noturna que conversa, sussurra, ronca e incomoda suas noites. A essa hora da madrugada, a cidade já adormeceu e a insônia, insensível como ela só, insiste em não ir embora. Nos deixa ali, naquela cama vasta, pensando em mil coisas que preferiríamos não pensar. Como o preço da gasolina, ou o vizinho que ouve música alta, ou a conta de luz que vai chegar. Dizem que o adulto moderno tem medo de enfrentar os problemas de frente. Eu diria que, mais distraído com seus problemas, o adulto moderno sofre uma crise de insônia crônica. A insônia é como uma comédia da vida adulta: uma comédia triste, irônica e sarcástica, que nos afunda em um mar de pensamentos e preocupações. Então, meu caro leitor, se você, assim como eu, também não consegue fugir da insônia, resta-nos fazer dela uma aliada. Converse com a insônia, brinque com ela, chame-a para um café. Quem sabe juntos, nós e ela, não possamos visitar esse estranho mundo dos sonhos que tanto nos negamos a conhecer. Mas se a insônia ainda insistir em atormentar suas noites, recomendo chá de camomila, uma meia antiga no travesseiro ou, se tudo der errado, uma boa e velha contagem regressiva de ovelhas. E agora, permita-me despedir. A minha insônia acaba de chegar, toda pomposa, reclamando da demora. Já sei que essa noite será longa. Até a próxima, se é que vou conseguir pegar no sono.